Uma questão que surge de vez em quando é:
“Como é que eu posso aprender a ser Dominadora?”
Por vezes a questão surge de outras formas, como, “Há uma pessoa com a qual quero estar, mas esta pessoa diz que não sou dominante o suficiente. Como é que dou a volta a isso?” Ou, “O meu namorado quer experimentar BDSM e quer que eu seja Dominadora, mas não estou a conseguir. Ajudem-me!”
Existem várias maneiras de aprender a ser mais assertiva, a falar mais e desenvolver aptidões de liderança. Isto não significa aprender a ser Dominadora (ou Dominatrix).
A resposta a estas questões não é fácil, e está sempre sujeita a debate. O que segue é opinião de parte da comunidade BDSM:
Se pensarem bem, a maioria das pessoas tem pelo menos um aparte da vida sobre a qual temos total controlo. Pode ser com os filhos, o emprego, o canalizador, ou com um grupo ao qual pertencem.
Ser ou não dominadoras?
Mas quando se fala de “Ser Dominador” estamos a falar de BDSM. Significa que quando se trata de explorar actividades que envolvem bondage, domínio, submissão, sadismo e masoquismo, gostamos de incorporar o tipo de energia que encontramos do lado dominante do espectro. Não significa que gostamos de sadismo ou de bondage, mas em geral, gostamos de estar a comandar a acção.
Frequentemente acontece que gostamos de ser Dominadoras num cenário íntimo, numa relação sexual, mas também pode acontecer sem sexo ou até fazer parte de uma relação duradoura.
Qualquer que seja o cenário, a chave é seguir os nossos instintos. Seguir aquilo que mais nos atrai. Existe um desejo inato, que pode ser sexual, ou não, de ter controlo sobre o cenário.
Segundo a experiência de muitos indivíduos, este desejo não pode ser criado se ele não existe. Pode ser desenvolvido, crescido, pode subir e descer, mas se procurarmos profundamente e não nos acendermos com a ideia de assumir o controlo de determinada cena, então não se pode dizer que se é uma verdadeira Dominadora.
É muito importante esclarecer: podemos entrar num role-play por diversão, porque o parceiro pediu, porque estamos em cena, ou qualquer outro contexto… mas dizer que um indivíduo é Dominador significa que já está lá, que lhe é intrínseco.
Assumir um papel dominante para satisfazer os desejos de outra pessoa é simpático, e talvez o consiga de vez em quando, mas isso não faz da pessoa um Dominador(a). Alguns descrevem-no como “ter sexo sem ter vontade”, o desejo ou existe, ou não. Podemos desempenhar o papel, mas não significa que temos realmente vontade ou desejo.
Também é possível que e energia não esteja certa, o seu parceiro pode sentir que algo está errado e não se sentir satisfeito com a interacção. Na realidade, o mais provável é que também sinta o mesmo se é algo que não tem vontade de fazer.
Fazer com que o nosso parceiro seja feliz é óptimo, mas se essa é a única razão para ser Dominadora, isso faz de mais um parceiro de serviço, ou até um submisso. Pelo menos, pode-se fazer o argumento.
É verdade que a dominância de alguns possa ter uma tendência submissa, mas isso pode ser apenas um aspecto de um objectivo mais vasto. Uma Dominadora deve sentir-se acesa sexualmente, emocionalmente, espiritualmente, e mentalmente com o controlo que tem. Se nós estamos constantemente a assumir um papel dominante apenas porque alguém que gostamos ou queremos nos pede, como é que isso faz de nós Dominadoras?
Também não ajuda nada quando um parceiro, seja ele potencial ou atual, nos diz que não prestamos como Dominadora ou que não somos um verdadeiro Dom. Isto não significa que um parceiro não deva indicar o que quer ou que não está feliz ou satisfeito na relação, mas lá por não sermos o “tipo” de Dominadora que procuram (o que acontece), não significa que não sejamos Dominadoras de uma forma que seja autêntica e válida para nós. Pode simplesmente significar que não estamos numa relação compatível.
Se o nosso parceiro está a reclamar relativamente à dinâmica D/s, ajuda se falarmos sobre os detalhes daquilo que queremos um do outro e se conseguimos encontrar um lugar que satisfaça todas as pessoas envolvidas; é muito mais útil do que acusar o nosso parceiro de falso o fingido. Isto também é válido para um submisso. Podem não ser aquilo que procuram, mas não faz de eles falsos.
É um assunto que não é fácil de discutir. Cada indivíduo tem experiências diferentes e subjectivas. Vivemos as nossas vidas de dentro para fora, e penso que não é útil ser-nos dito (ou dizermos) que não somos “verdadeiras” dominantes (ou submissas, ou gays, ou autores). Temos o direito de definir o que os “rótulos” significam para nós, e não devemos forçar os outros a viver segundo os nossos códigos pessoais. Podemos decidir que “rótulos” se aplicam a nós. Como sempre, quando estamos a conhecer outras pessoas e/ou a negociar as nossas interações, é importante clarificar o que os termos significam para nós. Estes termos significam coisas diferentes para pessoas diferentes, e lembre-se que suposições só nos metem em sarilhos.
Este assunto é interessante, e devemos pensar nele. Podemos chamar-nos Dominadoras, mas é importante saber porque é que o fazemos. Se está a encarnar uma personagem que a faz sentir desconfortável, e se o está a fazer para agradar outra pessoa, a longo prazo não vai correr bem, nem para si nem para o seu parceiro. Particularmente se está envolvida numa relação íntima duradoura. Tentar ser algo que não somos significa que, provavelmente, nos vamos desgastar ao tentar viver algo que realmente não sentimos e, no fim do dia, também não estamos a satisfazer as nossas necessidades.
Em suma, se se quer divertir com um roleplay no quarto de vez em quando, encenarem uma situação D/s pode ser muito divertido e sexy, mas não significa que sejam necessariamente um casal D/s. Muitos de nós podíamos beneficiar de uma aprendizagem em assertividade e liderança, mas isso também não fará de nós Dominadoras. Quando se trata de ser Dominadora ou submissa como identidade, significa que surge naturalmente do nosso ser. Pode ter os mais variados aspetos, mas o desejo existe, independentemente da pessoa com a qual esteja, quer seja solteira ou acompanhada, em cena, ou não. Faz parte de si.