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Saló ou 120 dias de Sodoma (1975 – Pier Paolo Pasolini)

O filme “120 dias de Sodoma”, ou como é também apresentado “Saló”, é sem sombra de dúvidas um dos mais polémicos de toda a história da sétima arte, tratando-se essencialmente uma dura e forte crítica ao fascismo, sendo que em todo o filme há uma série de cenas de masoquismo e sodomia. Da autoria de Pier Paolo Pasolini, é a obra mais violenta deste cineasta italiano, um filme marcado pela opressão, sadismo, deboche e até morte, sempre com uma expressão de pura maldade.

O cineasta transpôs “Os 120 Dias de Sodoma” do Marquês de Sade, apoiando-se ainda nos textos criados por Roland Barthes, Maurice Blanchot e Pierre Klossowski para mostrar como foram os últimos dias de ditadura fascista italiana, bem no final da II Guerra Mundial. A acção do filme passa-se em Itália, no momento em que esta estava controlada pelos nazistas, sendo que 4 libertários fascistas sequestram 16 jovens e acabam por os prender numa mansão com guardas. Depois desse momento, os jovens passaram a ser usados unicamente como fonte de prazer, de masoquismo e sodomia e até de morte.

Pode até parecer um filme normal e sem uma grande presença na história, havendo até algumas dificuldades em entender o porquê de ser uma referência para a comunidade de bondage de Portugal, porém o seu principal objectivo é polemizar e fazer duras críticas ao fascismo, ao fetichismo sexual e até ao autoritarismo religioso que naquela altura era bastante popular e teria uma forte influência na sociedade em geral.

Para aqueles que não estão propriamente habituados a este tipo de cinema, pode tornar-se relativamente cansativo e até demasiado pesado no seu decorrer, não havendo grande actuações em destaque, mas é uma das melhores obras para quem procura essencialmente respostas filosóficas e relacionadas com o bondage e toda a comunidade adjacente. Por outro lado, é importante afirmar que a adaptação que Pier Paolo Pasolini fez das histórias originais de Marquês de Sade é bastante mais leve, pois estas tinham uma obscuridade ainda maior do que o apresentado.

Dentro das cenas mais polémicas e fortes do filme, destaca-se alguns momentos mais sádicos, como o momento em que um dos jovens é obrigado a comer excrementos, o momento em que estes são obrigados a ter actos sexuais com o principal objectivo da observação das autoridades locais e até alguns fetiches mais bizarros. Tendo em consideração o ano do seu lançamento, 1975, algumas cenas não forem muito bem aceites pela população em geral e houve até quem considerasse o filme um autêntico ultraje à vida sexual que a sociedade tinha no momento, acreditando sempre que nada do que estava a ser retratado podia ser real, porém a história original mostra que tudo era real, apenas estava a ser escondido.

Pier Paolo Pasolini era curioso, italiano e homossexual, tendo um gosto particular por elencos amadores e preferia explorar bastante a sexualidade nos seus filmes, gerando assim uma grande polémica em seu redor. Com 53 anos acabou por falecer, de uma forma brutal, já que foi encontrado completamente desfigurado e bastante magoado, um autêntico latrocínio. A sua morte aconteceu no mesmo ano do lançamento do filme, por isso existe uma grande tensão sobre o assunto e muitas dúvidas sobre o que realmente aconteceu.